segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Quero beber das tuas lágrimas para alimentar minha torrente.
Poderia me reidratar com o que tu expeles em jorro lacrimal.
Usar o teu pranto para fabricar o meu
e te expulsar em choro convulso,
depois te beber de novo,
expulsar,
conter.
Antropofagir-nos,
fundir o resto de cada um,
o resto comum,
que é tudo lágrimas,
e fazer delas mais outras,
em ciclo.
Se meu corpo não mais dispõe de líquido,
me empresto do teu,
derramado face a baixo,
face a dentro da minha,
e te devolvo - toma, bebe, pega
me toma nos braços,
me engole em goles.
Dou-me a ti,
fazes de mim o que quiseres, desde que não queiras farrapos -
mas se forem farrapos pra te envolver,
despedaça-me que eu rodeio teu corpo miúdo, encolhido, desnudo.
Te abraço com os mil braços que não tenho.

Se o que nos une é o resto,
quero dividir até esgotar.
Eternizar o fim até que se esvaia.
A fusão em um, dois, em quantos que somos.
Incontáveis, imensuráveis,
minúsculos em solidão.
Murchos em vazio.

Arrancaram -
arrancou-se de mim
o maior espaço cheio que tinha
A maior coisa do meu cotidiano
em matéria,
pensamento,
Posta em memória
Em saudade,
dor.

e dói.


domingo, 22 de setembro de 2013

esse rio pulsante
que corre sob minha pele
que brota sobre minha pele
ácido
quente
salgado

que abastece meus dedos
minhas pontas
certos pontos interessantes

e que se mantém.

inconstante
em presença certa
inesperada.